quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Novo dispositivo promete deixar qualquer pessoas 'mais inteligente'


São quatro tentáculos, que devem ser posicionados sobre a testa do usuário. Ao ligar o aparelho, a pessoa começa a sentir um formigamento. Depois de cinco minutos, deve retirar o dispositivo da cabeça - que, curiosamente, continua formigando por algum tempo. Assim funciona o Foc.us: um aparelho de US$ 250 que está sendo lançado nos EUA e promete aumentar os poderes cognitivos de qualquer pessoa (em especial os jogadores de games, cujos reflexos promete acelerar).

Ele emprega a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), uma técnica que consiste em aplicar pequenas correntes elétricas em certas áreas do cérebro. Há estudos mostrando que a ETCC produz efeito no tratamento de depressão e dores crônicas, e também pode intensificar certas funções mentais, como memória de curto prazo, concentração e capacidade de tomar decisões. Na experiência mais recente, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, voluntários foram submetidos a cinco sessões de estimulação transcraniana - e se tornaram capazes de fazer operações matemáticas com o dobro da velocidade. "A corrente elétrica aumenta o nível de atividade cerebral da área estimulada", explica o psiquiatra André Brunoni, coordenador do grupo de estudos sobre neuromodulação não-invasiva do Hospital Universitário da USP. O cérebro continua funcionando no modo alterado durante algum tempo, mesmo depois que a pessoa desliga o aparelho.

Essas conclusões foram obtidas em testes de laboratório - não com um produto comercial. "As pesquisas já realizadas não são suficientes para justificar o uso da técnica fora de um ambiente controlado, e muito menos para garantir que os efeitos produzidos pelo headset serão os prometidos", diz o neuropsicólogo Paulo Boggio, pesquisador da Universidade Mackenzie. Acima de tudo, há o fator risco: o Foc.us utiliza uma corrente muito pequena, 1 miliampére (500 vezes menos do que uma lâmpada caseira de 60 W), mas não há estudos que avaliem suas consequências a longo prazo.


Fonte: Revista Superinteressante